# Estava relembrando da
primeira infância: o ovo branco saindo do buraco do muro da primeira casa da
rua, o relógio da sala marcando sete horas, a rua vazia e a não existência de
competidores; passos apressados, portão aberto e três metros de passarela. Na
mente, uma viva lembrança dos enigmáticos olhos da voluntariosa galinha que
gentilmente ofertara o seu produto e dos fortes argumentos utilizados para
evitar palmadas... Com o tempo, vários acontecimentos foram somados, modificando
escolhas, diminuindo compromissos desagradáveis, abrindo sorrisos e liberando
situações para o bem das aventuras.
# Voltou ao texto e
acrescentou às frases: ao precisar deve restituir, mesmo nas horas incertas e
diante de mapas desconhecidos; a ilusão é renovada a cada instante, no início,
meio e fim; a mesa fica posta, em alguns momentos e em outras vezes, fica
carente; as chuvas de palavras soltas formam sentenças em serventia, quem
responde escolhe a pergunta; pouco importa se é joio ou trigo; o mais
importante é o prazer de reconstituir.
# Outro dia,
revisitando a pequena memória, resgatou a velha camisa branca, a parada de
ônibus, o lenço vermelho e o bolo de bacia; releu o título do livro de bolso,
as palavras de ordem da operação esperança e o significado de ser cientista;
modificou a lembrança da meia garrafa, as cinco moedas de prata e as
brincadeiras nas poças de lama; agradeceu ao banho de chuva, à conversa com os
bons amigos na calçada da esquina e à maravilhosa sensação de graça na hora da
missa.
# Olhei para o
elefante da sorte e fiz alguns pedidos. Respirei profundamente e imaginei o
sino tocando três vezes. Depois de alguns minutos, fui para outra cadeira com a
intenção de inventar algo novo, e, para isso, escolhi modificar velhas
fantasias de magos e de duendes... No final das vivências, fiquei com o coração
mais satisfeito, eufórico por arriscar novas ideias e muito agradecido à
inteligência imaginária por ter modificado algumas ordens relacionadas aos custos, benefícios e limites do heroísmo.
# Estava sentado e
proibido de participar. Estagnado, só podia assistir e torcer. Revoltado,
falava mal do inventor de doenças e mangava dos fracos que recebiam seus
destinos calados. No meio da rua, a peleja corria solta e seus pequenos ouvidos
escutavam os gritos de vitória, os risos de deboche e as velhas reclamações.
Depois, ficou com os olhos fixos no céu azul, abriu a boca e recebeu gotas do
líquido sagrado que lhe foi ofertado pelo seu mais novo guardião da saúde, e,
uma nova disposição surgiu na região verde,
ativando todos os processos de cura, e todos os canários do império ficaram
livres para recantar a sua melhor parte da infância.
# Hoje,
depois de um descuido quebrei o copo americano. Imediatamente, lembranças de
outras quebras, pedaços de vidro no chão, cortes e colagem com esmalte
vermelho. ... Lembranças das proibições do
vinho de Jurubeba, das alegrias, do colo carinhoso e dos frequentes elogios.
Retornando ao prejuízo, assumo as consequências do ser distraído, comprometo-me
a reinventar o objeto 53 e redirecionar a posição de outros brinquedos que
curtem saudade nos espaços da imaginação.
# Numa rodada de
histórias voltei ao tempo que acreditava que era bom o ato de competir. No
jogo, troquei várias vezes de lugar e comando, ganhei e perdi espaços nas
situações de confronto. Antigas imagens foram revisitadas, tratadas e colocadas
na panela para cozinhar, de maneira agradável e sem estresse... Depois da
experiência, transformei significados, troquei conceitos e coloquei novas
pedras na calçada que informa a verdadeira essência do jogar.