sábado, 31 de janeiro de 2015

(10) Alguns textos de Zeca Lemos publicados no Facebook

# O abridor de lata era novo e estava costurando latas enferrujadas. As moscas em cima da mesa perdiam a força do incômodo. Toalha enfeitada e cadeiras prontas para o uso. Depois de certo tempo, o vento deixou de ser morno, os papéis voltaram para os donos, a velha goiabeira apresentava a sua graça e tudo passou a ser novidade na casa de Maria.

# Escolhi ser peixe e fui relaxar no centro do rio. Olhei para o céu e preso fiquei na frequência do olhar. Queria sair, voltar no tempo ou apagar lembranças. Na incerteza, peguei carona no pássaro azul, fui para o canteiro de rosas vermelhas e plantei sementes de girassóis.

# Olhou para o grande espelho, ficou surpreso e escolheu dois baldes. Foi para o quintal e selecionou trinta folhas miúdas de hortelã e três folhas grandes de colônia. Na hora marcada, banhou a face esquerda do rosto e enxugou os dedos da mão direita. Ficou preocupado porque os pés continuaram sujos. Para resolver pendências comprou um litro de lavanda, uma nova agenda e várias etiquetas.

# No livro de receitas algumas fórmulas inusitadas e duas páginas coladas guardavam os melhores segredos. Várias tentativas, acertos, erros e alguns rascunhos jogados no balde do lixo. Na grande parede tinha um mapa com a relação de “todos” os ingredientes e no centro da sala uma grande mesa de doze lugares esperava os novos profetas.

# Ficou feliz ao retirar a carta equilíbrio e pronto viajou para o antigo quintal da casa do passado. Rapidamente, pulou para o muro e depois de idas e voltas substituiu o medo que vivia disfarçado de falta de jeito. Amostrado arrotou lorotas, trocou palavras e rasgou algumas páginas do livro pessimista. Depois, olhou para o fundo da sala e imaginou a bela goiaba que está esperando o seu próximo pulo.

# O destempero foi grande e a comida ficou logo estragada; um dia para ser totalmente esquecido e riscado do mapa da amizade. O papagaio envergonhado começou a cantar uma melodia desconhecida, e, logo, o caminhão do lixo chegou para levar as porcarias. Depois de alguns dias, uma chuva fina deixou os pratos limpos, a faxineira organizou a casa e um manto branco de luz protegeu os seres bem intencionados.


# Chegou apressado, era cedo e o tempo estava frio. No centro do rio, um peixe carregava objetos para debaixo de algumas pedras. A água limpa revelava as marcas de cada objeto e, logo, o jogo de esconde-esconde foi perdendo a serventia. Depois da mudança do jogo e da chegada de outros objetos, novas histórias foram criadas e uma quantidade razoável de saberes foi aprendida. Agora, um painel informa os possíveis gargalos que podem estar professando a desarmonia do rio e os caminhos de luz que serão percorridos por todos necessitados.