# O abridor de lata era novo e
estava costurando latas enferrujadas. As moscas em cima da mesa perdiam a força
do incômodo. Toalha enfeitada e cadeiras prontas para o uso. Depois de certo
tempo, o vento deixou de ser morno, os papéis voltaram para os donos, a velha
goiabeira apresentava a sua graça e tudo passou a ser novidade na casa de
Maria.
# Escolhi ser peixe e fui
relaxar no centro do rio. Olhei para o céu e preso fiquei na frequência do olhar.
Queria sair, voltar no tempo ou apagar lembranças. Na incerteza, peguei carona
no pássaro azul, fui para o canteiro de rosas vermelhas e plantei sementes de
girassóis.
# Olhou para o grande espelho,
ficou surpreso e escolheu dois baldes. Foi para o quintal e selecionou trinta
folhas miúdas de hortelã e três folhas grandes de colônia. Na hora marcada,
banhou a face esquerda do rosto e enxugou os dedos da mão direita. Ficou
preocupado porque os pés continuaram sujos. Para resolver pendências comprou um
litro de lavanda, uma nova agenda e várias etiquetas.
# No livro de receitas algumas fórmulas inusitadas e duas páginas
coladas guardavam os melhores segredos. Várias tentativas, acertos, erros e
alguns rascunhos jogados no balde do lixo. Na grande parede tinha um mapa com a
relação de “todos” os ingredientes e no centro da sala uma grande mesa de doze
lugares esperava os novos profetas.
# Ficou feliz ao retirar a carta equilíbrio e pronto viajou para o
antigo quintal da casa do passado. Rapidamente, pulou para o muro e depois de
idas e voltas substituiu o medo que vivia disfarçado de falta de jeito.
Amostrado arrotou lorotas, trocou palavras e rasgou algumas páginas do livro
pessimista. Depois, olhou para o fundo da sala e imaginou a bela goiaba que
está esperando o seu próximo pulo.
# O destempero foi grande e a comida ficou logo estragada; um dia para
ser totalmente esquecido e riscado do mapa da amizade. O papagaio envergonhado
começou a cantar uma melodia desconhecida, e, logo, o caminhão do lixo chegou
para levar as porcarias. Depois de alguns dias, uma chuva fina deixou os pratos
limpos, a faxineira organizou a casa e um manto branco de luz protegeu os seres
bem intencionados.
# Chegou apressado, era cedo e o tempo estava frio. No centro do rio, um
peixe carregava objetos para debaixo de algumas pedras. A água limpa revelava
as marcas de cada objeto e, logo, o jogo de esconde-esconde foi perdendo a
serventia. Depois da mudança do jogo e da chegada de outros objetos, novas histórias
foram criadas e uma quantidade razoável de saberes foi aprendida. Agora, um
painel informa os possíveis gargalos que podem estar professando a desarmonia
do rio e os caminhos de luz que serão percorridos por todos necessitados.