sábado, 28 de fevereiro de 2015

(11) Alguns textos de Zeca Lemos publicados no Facebook

# Estava relembrando da primeira infância: o ovo branco saindo do buraco do muro da primeira casa da rua, o relógio da sala marcando sete horas, a rua vazia e a não existência de competidores; passos apressados, portão aberto e três metros de passarela. Na mente, uma viva lembrança dos enigmáticos olhos da voluntariosa galinha que gentilmente ofertara o seu produto e dos fortes argumentos utilizados para evitar palmadas... Com o tempo, vários acontecimentos foram somados, modificando escolhas, diminuindo compromissos desagradáveis, abrindo sorrisos e liberando situações para o bem das aventuras.

# Voltou ao texto e acrescentou às frases: ao precisar deve restituir, mesmo nas horas incertas e diante de mapas desconhecidos; a ilusão é renovada a cada instante, no início, meio e fim; a mesa fica posta, em alguns momentos e em outras vezes, fica carente; as chuvas de palavras soltas formam sentenças em serventia, quem responde escolhe a pergunta; pouco importa se é joio ou trigo; o mais importante é o prazer de reconstituir.

# Outro dia, revisitando a pequena memória, resgatou a velha camisa branca, a parada de ônibus, o lenço vermelho e o bolo de bacia; releu o título do livro de bolso, as palavras de ordem da operação esperança e o significado de ser cientista; modificou a lembrança da meia garrafa, as cinco moedas de prata e as brincadeiras nas poças de lama; agradeceu ao banho de chuva, à conversa com os bons amigos na calçada da esquina e à maravilhosa sensação de graça na hora da missa.

# Olhei para o elefante da sorte e fiz alguns pedidos. Respirei profundamente e imaginei o sino tocando três vezes. Depois de alguns minutos, fui para outra cadeira com a intenção de inventar algo novo, e, para isso, escolhi modificar velhas fantasias de magos e de duendes... No final das vivências, fiquei com o coração mais satisfeito, eufórico por arriscar novas ideias e muito agradecido à inteligência imaginária por ter modificado algumas ordens relacionadas aos custos, benefícios e limites do heroísmo.

# Estava sentado e proibido de participar. Estagnado, só podia assistir e torcer. Revoltado, falava mal do inventor de doenças e mangava dos fracos que recebiam seus destinos calados. No meio da rua, a peleja corria solta e seus pequenos ouvidos escutavam os gritos de vitória, os risos de deboche e as velhas reclamações. Depois, ficou com os olhos fixos no céu azul, abriu a boca e recebeu gotas do líquido sagrado que lhe foi ofertado pelo seu mais novo guardião da saúde, e, uma nova disposição surgiu na região verde, ativando todos os processos de cura, e todos os canários do império ficaram livres para recantar a sua melhor parte da infância.

# Hoje, depois de um descuido quebrei o copo americano. Imediatamente, lembranças de outras quebras, pedaços de vidro no chão, cortes e colagem com esmalte vermelho. ... Lembranças das proibições do vinho de Jurubeba, das alegrias, do colo carinhoso e dos frequentes elogios. Retornando ao prejuízo, assumo as consequências do ser distraído, comprometo-me a reinventar o objeto 53 e redirecionar a posição de outros brinquedos que curtem saudade nos espaços da imaginação.


# Numa rodada de histórias voltei ao tempo que acreditava que era bom o ato de competir. No jogo, troquei várias vezes de lugar e comando, ganhei e perdi espaços nas situações de confronto. Antigas imagens foram revisitadas, tratadas e colocadas na panela para cozinhar, de maneira agradável e sem estresse... Depois da experiência, transformei significados, troquei conceitos e coloquei novas pedras na calçada que informa a verdadeira essência do jogar. 

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