# Existia um pé que corria
pelos buracos e ladeiras, sem rumo. Uma senhora falava que ele corria porque a
calça ficava apertada. Perguntei aos meus botões o que ela queria dizer com
aquilo. De repente, o sino toca, a lavadeira desce a escada e o pé volta para
casa.
# Na mesa tinha um copo “em
conciliação”, o vento gargalhou e a porta se abriu. Escutei uns passos, recebi
um abraço e tudo ficou azul.
# Era uma carroça diferente:
levava antiguidades; o cavalo era menor e sorria bastante. Quando chegou à
porteira encontrou um gato, que na sua eterna preguiça não disse nada. O cavalo
começou a crescer; o gato correu e subiu na carroça. As porteiras se abriram e
os objetos mudaram de valor.
# Outro dia, amarrei uma linha
em um dedo, para não esquecer as coisas. Quando percebi que amarrei o dedo
errado, já era tarde demais, vários assuntos tinham mudado de lugar. Voltei
para cadeira para refazer o mal-entendido e encontrei um novo problema: as
linhas tinham mudado o prazo de validade. Para diminuir o prejuízo, fui para
cama, relaxei e voltei para o silêncio.
# Tinha na sala um saco de
bolas coloridas. As bolas cheias mudavam de cor a cada aperto e as bolas vazias
saiam da sala para curtir outras experiências. Quando as bolas foragidas
voltavam, traziam um laço preso ao corpo, sem entender, as bolas cheias
resolveram fechar o saco.
# Tinha uma trilha fora da casa
indicando outros caminhos. Uma seta informava: coloque um punhado de moedas na
mão e jogue de volta no poço. O poço agradeceu e informou que depois daria o
retorno.
# Outro dia, estava observando
que as bocas estavam cheias de farelos. Algumas formigas faziam a festa debaixo
da mesa, outras, diziam que o produto era de má qualidade. Sutilmente, um vento
apareceu de maneira diferente, o formigão perdeu o posto e a comilança se
transformou em melodia.
# Tinha uma garrafa em cima do
muro que se equilibrava por teimosia. Uma pequena multidão discutia quais os
motivos da brincadeira. Quem era o dono da garrafa: o vizinho, você, eu, quem?
Estava pensando que talvez fosse uma simpatia para começar bem o ano de 2012.
Como a “solução” foi encontrada, imediatamente a tela ficou em branco.
# O livro era enorme, branco,
do tamanho da sala. As pessoas lambuzavam com os pés as maravilhas da liberdade.
Era uma terça-feira. No teto tinha uma mandala que girava em sentido horário e
anunciava o momento da distribuição das palavras.
# O espaço era curto para
tantas profecias e as expectativas pessimistas rodopiavam nas palavras. De
repente, o mago “dono” da roda do destino aparece para embaralhar o sentido das
certezas e os ouvidos passam a ouvir (somente) os pingos da chuva.
# O rótulo molhado continuava na
mesa e o corte estava diferente. As caixas produziam sons de outras eras.
“Pura” madrugada sem lembranças... Para trazer alegria ao desconhecido escrevo
palavras em vermelho.
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